Tuesday 4 February 2014

Pessoas que passam por mim… e ficam. #1

Esta é uma rubrica que inauguro hoje, e em que pretendo falar de personalidades que passaram em determinado momento na minha vida (e podem permanecer, como é o caso do texto de hoje) e me marcaram de alguma forma. Estreio este espaço com uma das pessoas mais importantes na minha vida.


A moreninha que não sabia parar de sorrir

Eu tinha cinco anos quando a conheci - frequentávamos juntas aquilo a que na altura se chamava pré-catequese. Lembro-me de vê-la a primeira vez, com a sua carinha morena de bochechas rosadas emoldurada pelos seus cabelos desgrenhados, de ondulação rebelde - talvez pelo excesso de brincadeira -, de olhos brilhantes e vivaços, e sorriso generoso e facilmente predisposto a desenhar-se no seu rosto meigo. Vestia uma camisa de gola redonda de cor pálida e uma saia com peitoral e alças aos quadrados vermelhos e brancos - aqueles vestidos muito comuns na nossa infância e que foram recentemente ressuscitados para animar o guarda-roupa da pequenada. 

Ela sorria incessantemente para a catequista e recordo-me como se fosse hoje que ela era sempre a primeira a alinhar nos jogos propostos, sem medo de perder e com muita vontade de experimentar tudo - mal imaginava eu que iria experimentar a vida ao lado dela por muitos, muitos anos depois desse dia. 

Eu era aquela miúda que tinha de estar sempre com a mão no ar a insistir responder a todas as perguntas, e com muitas questões na ponta da língua. Afinal, a catequese na altura era uma ocasião importante aos meus olhos e eu já gostava de dar o meu melhor em tudo que fazia. Eu era igualmente sorridente, mas mais sossegada, muito mais sossegada - estava habituada à pasmaceira do colégio que frequentava no ensino pré-primário. Na verdade, eu detestava o colégio e não suportava as meninas da minha turma, que só queriam brincar com bonecas o tempo todo e não tinham qualquer interesse em experimentar outras coisas, como construções de Lego, puzzles, folhear e criar toda uma história à volta dos livros que ainda não conseguia ler, mas cujas imagens me faziam sonhar, ou jogos de exploração do meio (partir em descoberta de ossos de dinossauro, de mochila às costas e livros debaixo do braço era um dos meus jogos preferidos, mas apenas descobri em determinada ocasião dois ossos de galinha no jardim ao pé de casa). Acabava por brincar sempre com os rapazes, mais divertidos e com vontade de imaginar e partir à aventura. 

No entanto, aquela miúda era diferente, diferente de todas as outras que eu tinha conhecido. Aquela não brincava só com bonecas. Aquela corria tanto que ficava com o cabelo colado à testa e ao rosto suados. Reconheço hoje a sensação de saber que aquela menina era perfeita para ser minha amiga. Com ela imaginava-me a brincar, a explorar o mundo e, apesar de na altura não o imaginar, acabaria por com ela partilhar alguns dos melhores momentos da minha vida. Adorava que não conseguisse parar de sorrir e que enfrentasse tudo com aquele sorriso. 

Acabámos por nos aproximar naturalmente e nunca mais nos largamos. Os anos passaram e a nossa amizade persistiu. Ela acabou por se tornar numa constante na minha vida e tenho com ela as histórias mais hilariantes, mais inesquecíveis e mais mirabolantes. Separadas continuamos a ser nós mesmas, mas quando estamos juntas, costumamos dizer que o Universo não está preparado para nós, porque tudo pode acontecer. 

E é assim a Ana. E assim somos nós.

Há uns aninhos, quando fomos de férias juntas.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos


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